sexta-feira, 18 de junho de 2010

Porque eu não bebo




Se você acompanha meu blog desde o começo, já deve saber que eu não bebo. Não bebo, não fumo e não uso drogas. O fato de eu náo fumar e não usar drogas está ligado a uma questão de saúde. O de não beber também. Mas nem tanto. Há algumas razões provenientes do meu passado que explicam o que levou à minha escolha. Traumas tão profundos que certamente contribuiram para que eu tomasse a decisão de nunca mais levar uma gota etílica à boca. Irei contá-los aqui as histórias que me fizeram abandonar o consumo alcoólico.

Eu já fiquei bêbado uma vez na minha vida. Apenas uma. E essa experiência foi uma das mais tristes da minha existência. Eu era apenas um garoto, tinha perto dos 9 anos de idade. Época em que eu era fanático por desenhos animados. Tínhamos TV a cabo aqui em casa e eu sempre passava as tardes vendo os seriados japoneses que mais tarde seriam a base de todo o meu conhecimento sobre as leis da vida.

Um dia, fui tomar um gole d'água. Peguei a garrafa, servi-me em um copo grande e entornei o copo de uma vez só. Só depois fui descobrir que o que havia naquela garrafa não era água. Era cachaça mesmo. Eu entornei em um gole o equivalente a cinco martelinhos de cana. Não preciso nem dizer que fiquei bêbado. O que segue agora é um relato da minha mãe, pois óbviamente não me lembro de nada. Contou-me ela que logo após eu entrar no meu "eu etílico" Dirigi-me até o quarto, liguei a televisão com muito custo e fui olhar meus canais de desenhos, deitado na cama. E dormi o dia todo. Quando acordei, todos já haviam acabado. Inclusive o último episódio de Super Campeões, que eu havia esperado a semana toda para ver. Chorei como um eliminado do Big Brother. No meu primeiro e único contato com a bebida, ela arruina meus sonhos infantis.

Porém, a outra história, e a mais crucial de todas começa com o meu ancestral mais próximo, o meu pai. Meu pai é um bebedor inveterado, amante dos destilados. Meu pai bebia. Agora não bebe mais tanto por causa da diabetes. Mas meu pai bebia muito. E algumas vezes, ficava bêbado. Meu pai é um sujeito na maioria das vezes sério, mas com um talento de soltar comentários engraçados nos momentos mais oportunos. Porém, quando bebe, sua personalidade se transforma. Vira uma pessoa alegre, descontraída. E principalmente, muito inconveniente.

Tão inconveniente que, uma vez, em uma festa comemorando o aniversário de um amigo, meu pai exagerou na bebida. E exagerou. E exagerou mais um pouco. Eu, pequeno aos meus 7 anos, estava lá dentro da casa desse amigo dos meus pais, brincando com os meus primos, quando decidimos sair para pedir para nossas mães um suco ou alguma coisa, pois estávamos com sede. O que vimos a seguir foi um espetáculo do caos. Todos os adultos da casa estavam completamente loucos. Mas meu pai chamava a atenção. No meio do círculo de bêbados ele se destacava. Meu pai, gordo, em cima de uma mesa. O som que tocava era a Macarena. Sério, a Macarena. E ele dançava a Macarena. Em cima da mesa. E quando eu cheguei para perto dele, e perguntei "Pai, porque tu tá fazendo isso?" ele me respondeu algo que eu nunca vou esquecer:

-É que o pai tá bêbado, meu filho.

Sim, ele disse exatamente estas palavras. "O pai tá bêbado, meu filho."
Ele certamente se esqueceu do que proferiu, mas eu carrego isso comigo até hoje. Esta única frase me causou três traumas. O primeiro foi imediato. Eu não sabia na época o que era "estar bêbado", então era óbvio que assim que vi meu sério pai dançando uma Macarena em cima da cadeira eu não queria nem saber o que era, só queria evitar que acontecesse comigo o que vi naquele dia. Após aquele incidente, eu tinha medo de ficar bêbado de uma hora para a outra.

O segundo trauma foi tardio. Foi quando eu aprendi o que era "estar bêbado", e no que isso implicava. Quando descobri que as bebidas alcoólicas causavam o estado alterado, eu passei a ter medo de comerciais de cerveja. Quando eu via uma garrafa de Kaizer, ou Skol, ou qualquer outra marca de cerveja, eu saía correndo da sala. Um medo somente comparado ao que eu sentia quando o Enéas aparecia no horário político.

O terceiro foi recente. Quando eu passei a conhecer o "universo dos bêbados", eu entendi algumas coisas.
Entre elas, o fato de que um bêbado nunca admite que está bêbado, e se sente ultrajado quando o chamam de bêbado. E isso é um fato. Nenhum deles nunca admitiu. Apenas o meu pai. E apenas naquele dia também, porque em outros dias em que ficou bêbado, nunca mais admitiu estar em estado etílico. Então, por que que naquela vez enquanto eu era novo ele resolveu "revelar" para mim que estava bêbado? Por que ele admitiu? Como eu poderia provar ao mundo que eu havia visto um bêbado admitir que estava bêbado? Este ciclo infinito me causou o trauma mais profundo de todos. A partir daquele dia, decidi que não iria beber.

Não quero que meus filhos um dia me vejam dançando em cima da mesa de jantar, e quando perguntarem o porquê de eu estar fazendo tamanha bizarrice, eu responder com o mais puro dos sorrisos:

-
É que o pai tá bêbado, meu filho.

2 comentários:

  1. Porra cara, eu não concordo com a tua observação, senão vejamos: Tenho 35 anos e já fiquei bebado algumas vezes. Nunca matei ninguem por causa disso, nunca espanquei ninguem por causa disso, e vivo normalmente até hoje. Acho sim, que a bebida é como qualquer outra coisa na vida, ou seja, tudo que é demais vira um serio problema... Se beber não dirija, mas se beber curta o trago numa boa... só isso. Lembre-se, que a vida também é feita de abusos e de algumas quebras de regras. Tenha uma otima semana amigo, e parabéns, foi um ótimo post... vargas de Canoas

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  2. O Porquinho cuti-cuti não bebe nada álcoolico por causa disso? óóiin, que lindio! hsuaHSUahsua Achei que tu não bebia por que não gostavas, e não por esses motivos ai. Não vou falar muito por que não bebo também (ok, até bebo um pouco mas me controlo). "eu etilico" ficou tri Porcolo, só faltou uma foto do "Deus Etilico" - Baco. xD

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