sexta-feira, 21 de maio de 2010

Um aniversário frustrado


Nessa minha curta vida até então, já tive alguns aniversários, uns especiais por sua emoção, outros pelo dia em si. Nunca fui um cara dado a festas, devido à minha natureza tímida com as pessoas em geral. Porém, algumas vezes tive festas de aniversário memoráveis por seus pequenos momentos alegres. Teve uma porém, que teve uma nota especialmente frustrante.

Sabe aquelas festinhas de aniversário com bolos, guaranás e tal? Detesto-as.
Detesto-as com todas as partículas do meu ser. Não vou entrar em mais detalhes, apenas saber que as detesto já basta para que você tenha uma compreensão das minhas ideias neste texto. Então, chega a época do meu aniversário de 11 anos e eu me vejo diante de um ultimato imposto pela minha mãe. "Ou tu faz uma festa ou um jogo de futebol, porque eu não tenho foto nenhuma dos teus aniversários!" disse mamãe. Eu não gostava(e ainda não gosto) de tirar fotografias, mas também não interessa o porque. Pelo menos não nesse texto. Mas, já que tinha que escolher entre esses dois, resolvi optar, claro, pela partida de futebol.

Decidimos que ia ser no Clube Parque das Águas, pois éramos sócios na época e o campinho de futebol ali era de graça para nós. Campinho pequeno, mas ajeitadinho, sem bancadas, mas sem buracos, enfim, um campinho qualquer. Conseguimos reunir dois times de 11 e lá fomos nós, jogar. Eu obviamente era um dos capitães dos times, sendo o aniversariante. Meio de campo, estilo cérebro do time, saca? Capaz de dar lançamentos geniais, mas meio preguiçoso na marcação, até pelo meu porte físico.

Ok ok, eu confesso. Eu não sou um bom jogador de futebol. Quer dizer, não atualmente. Aos 6 anos de idade, eu era um gênio, um prodígio, muitos diziam que minhas habilidades eram grandes e eu tinha imenso futuro. Mas meu progresso estagnou. Hoje, jogo futebol tão bem quanto jogava aos meus 6 anos. Muita gente desapontou-se comigo. Talvez se eu tivesse aprimorado minhas habilidades, eu fosse hoje um Paulo Henrique Ganso. Mas a preguiça, sempre ela, estagnou meu processo de evolução futebolística.

Enfim, continuando. O jogo começou, como era de se esperar de dois times compostos de garotos de 9 a 13 anos, extremamente agitado, sem organização tática, pois garotos de 9 a 13 anos não querem saber de organização, querem é pegar a bola e correr com ela e fazer gols. Eu, jogando na meia, buscava o meu gol.

Talvez um chute de fora da área á la Rivelino, ou uma cobrança de falta á la Zico. Ou até mesmo um golzinho chorado á la Obina, qualquer coisa servia. Porém, o jogo descorria e, até o intervalo, eu não tinha feito o meu gol. Já começava a ficar triste, enquanto tomávamos água, comíamos alguns sanduíches feitos pelas mães do pessoal que estava jogando. O jogo estava 4 a 2 para o meu time, até aí tudo bem. Só que faltava o meu gol, o meu momento de aniversariante, o que faria tudo realmente especial.

Então, eis que chega para o segundo tempo o meu grande amigo desde os tempos de primeiro grau, o Wagner.
Wagner, conhecido hoje como Fino, Wagulha, ou até mesmo Abel, dada a sua semelhança com um famoso mendigo aqui da cidade de Viamão.
Atacante virtuoso, de chute forte, boa estatura e grande velocidade.
Wagner entrou para o outro time, pois o atacante deles tinha resolvido parar de jogar para se aproveitar das piscinas do Clube. Vai entender.

Enfim, começa o segundo tempo e Wagner está demais, aproveitando-se do cansaço dos demais e já sai fazendo um gol. 4 a 3. Mas Wagner queria mais. Wagner queria estragar meu aniversário por completo, arruinar meus sonhos de garoto, minhas esperanças infantis. E assim o fez. Fez mais dois gols. 4 a 5, ele estava imparável. Nos aproximávamos do fim do jogo e, além de estarmos perdendo, eu não tinha feito o meu gol. Então, comecei a pedir a bola desesperado, e o tempo passava, os segundos se íam, e o meu sonhado gol de redenção não saía.

Foi quando sobrou uma bola na entrada da área, nos acréscimos. Eu, cheio de ganas de fazer o gol, parti para aquela bola e, como se ela fosse um detestável poodle, chutei-a com todas as minhas forças. O desgraçado do goleiro espalmou para fora. Escanteio, última chance. Eu fui cobrar o escanteio, tentaria fazer um gol olímpico. Eu estava determinado. Nada iria me impedir de fazê-lo, tinha certeza. Parti para a bola e mandei-a com efeito. Ela foi indo, indo, ia entrar e... bateu na trave. Bateu na maldita, desgraçada, infeliz, inútil, ridícula, e dispensável trave. O meu tio, que era o árbitro da partida, trilou o apito. 5 a 4. 5 a 4 e um coração destroçado. O meu time havia perdido, e eu não tinha feito meu gol. Minha mãe conseguiu o que queria, tirou algumas fotos mas nenhuma lembrando do meu gol ou da vitória do meu time. Eu estava desolado.

A partir daquele dia, nunca mais fiz festas de aniversário.

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