sábado, 29 de maio de 2010
Pode cuspir!
Hoje fiz uma visita ao dentista, para fazer uma limpeza nos dentes. Atenção: o que contarei a seguir contém elementos do mais puro horror, portanto estejam preparados e de estômago forte. De preferência não comam ou tomem nada enquanto enquanto estiverem lendo o que aqui foi digitado. Pois bem. Fui ao dentista para fazer uma limpeza. Chegando lá, tive de esperar cerca de 20 minutos, entediado, desejando que minha vez chegasse rápido. Ah, se pelo menos soubesse o que estava para acontecer, saberia o quão alegre era aquele tédio. A dentista que faria o processo se chama Anne Jaeger. Minha parente, talvez? Não sei, os Jaeger são inúmeros, espalhados por todo o Rio Grande do Sul. Mas isso é assunto para outro momento.
Enfim, depois dos 20 alegres minutos de tédio na sala de espera, com direito à TV mal sintonizada na Globo, entrei no consultório. Aqui paro para fazer uma constatação: se você quer saber onde exatamente se meteu, verifique como a Globo está sintonizada no local. Se não estiver pegando direito a imagem, você está em um lugar ruim, onde pessoas normais não deveriam estar. Continuando a história, ao deitar-me no que chamo de "Divã da Dor", fui cumprimentado pelo noivo da dentista em questão. Seu nome é Alex, e eles formam um casal de dentistas.
Um casal de dentistas multiplica um dos principais problemas enfrentados por uma pessoa quando esta se encontra em um dentista. O fato de que, embora o dentista esteja pedindo para você manter sua boca aberta e imóvel, ele tenta estabelecer um diálogo com você. E mais do que estabelcer um diálogo, dentistas pedem suas opiniões no assunto, como se pudéssemos externar nossas vozes através de apenas esforço mental. Ou talvez pensem que somos todos ventríloquos. O certo é que isso faz parte do mundo absurdo em que vivemos quando estamos dentro daquela sala.
E então, começa o procedimento de limpeza, e eu redescubro o que sempre soube: dentistas são sádicos. Eles sentem prazer na dor. Tanto em ver alguém com dor, quanto em sentir dor. Às vezes tenho a impressão de que eles são apenas torturadores frustrados. Mas como existe algo que certamente abominam, chamado "Direitos Humanos", eles não podem exercer a profissão que seria a ideal para eles, e por isso fazem essa escolha de serem dentistas, sobre o pretexto de estarem ajudando pessoas com seus problemas dentais.
Mas não é isso que querem. Querem é ver a dor, causar dor, sentir dor. E ainda sentem um prazer sádico de nos mandarem: "Pode cuspir!", só para que vejamos o nosso sangue indo por aquela pia, enquanto fatiam nossas gengivas. Quando nos encaminhávamos para o fim dos procedimentos, Anne, a Açougueira (que não tenho mais dúvidas de que não se trata de uma parente, pois parentes não submeteriam sangue irmão a esse tipo de tortura), visivelmente triste com o término do seu divertimento, começa a me contar sobre a época em que seu noivo Alex usava aparelho ortodôntico. Conta que ele, ao ver que a sua gengiva estava subindo ao ponto de ele não conseguir escovar a parte de baixo dos dentes, algo comum com usuários de aparelho, mandou um colega arrancar parte da gengiva dele com um bisturí. Eu não preciso dizer mais nada sobre isso, só uma mente doentia cortaria um pedaço da sua carne deliberadamente.
Ao sair do consultório, vi que mais duas pessoas esperavam. Anne, a Açougueira sorriu como uma criança cruel que frita formigas com a ajuda de uma lupa. Me falou que provavelmente eu teria que fazer outra limpeza assim que tirasse o aparelho, para que pudesse retirar os resíduos que ficaram e que ela não conseguiu tirar. Certamente não retornarei nunca, nunca, nunca mais ao seu "Divã da Dor", Anne. Ela então, me deu um abraço de despedida, e nesse momento me senti como uma prostituta. Pois prostitutas que são abusadas e se despedem com um sorriso. A diferença é que prostitutas são pagas pelo abuso, e eu paguei para ser abusado. Me senti pior que uma prostituta, então.
Enquanto saía aliviado, ela chamava mais um paciente. Coitado, eu pensei, mais um ser humano que passa pelas mãos de um dentista, essa classe de sadomasoquistas.
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